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A Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), uma das principais aglomerações urbanas da América Latina, é formada por 39 municípios, que concentram mais da metade do PIB paulista (54%) e quase um quinto (17%) do PIB nacional. Não por outra razão, ela é palco de disputas eleitorais de grande impacto sobre o cenário político e econômico do estado. Nas eleições de 2020, há 287 candidatos a prefeito nessa região, 50% dos quais registrados por partidos isolados e outros 50% à frente de coligações. A maior oferta está nos municípios de São Paulo (14), Diadema (13), Guarulhos (13), Poá (10) e Embu-Guaçu (10).
Tabela 1. Candidaturas a prefeitura por tipo de agremiação – RMSP 2020
Os cinco partidos que mais concentram candidatos na cabeça de chapa na região são: PT, PSDB, PSD, PSOL e PSL, cabendo ressaltar que o protagonismo do PT e do PSDB contrasta com a média nacional de candidaturas por partidos, já que as duas agremiações que lançaram mais candidatos a prefeito em 2020 foram MDB e PSD. Os partidos que compõem o Centrão – bloco informal constituído por agremiações pouco tradicionais, localizadas à direita do campo político partidário, e que opera no Congresso na formação de maiorias voláteis – respondem por quase 34% das candidaturas da região, com destaque para o PSD, PL e PTB.
De olho na política nacional, com as ressalvas que as eleições locais requerem, vale observar mais de perto como se movimentam os principais partidos com projetos presidenciais – PSDB e DEM, pela direita, e PT, PDT e PSB, pela esquerda, além do comportamento do PSL, partido pelo qual Bolsonaro se elegeu e com o qual o presidente ensaia alguma reaproximação depois de meses de rompimento.
O PSDB, que há décadas mantém força política expressiva em São Paulo, com candidatos à prefeito em 60% dos municípios do estado, lança candidato em 23 dos 39 municípios da RMSP. Apenas em Salesópolis (sub-região leste), há lançamento de candidatura sem coligação com outros partidos. Nos demais municípios, em aparente demonstração de força, o partido lidera diversas outras legendas, com coligações de centro-direita e outras heterogêneas do ponto de vista ideológico. A coligação com o DEM, partido com o qual a legenda se alinha no Congresso em tentativa de construção de um projeto nacional conjunto, acontece em 13 dos 23 municípios (56%) em que o PSDB lança candidatos. Em nenhum deles, a coligação se resume às duas legendas. O DEM, por sua vez, lança candidatos ao cargo executivo somente em 5 municípios, optando por candidaturas isoladas em 3. Onde o DEM assume a cabeça de chapa da coligação, não há presença do PSDB. Suas coligações, todavia, são mais homogêneas em termos de identidade partidária – em apenas um município há coligação com partido situado mais à esquerda (PSB). A RMSP, portanto, é estratégica para o PSDB, mas não para o DEM, que nunca foi expressivo no estado e que, em 2020, opera sozinho de forma tímida, cumprindo, em algumas localidades, a função de braço auxiliar do PSDB. Fundado em São Paulo, o PSDB assume o estado como central em suas campanhas. Em outras palavras, é a dependência de trajetória do PSDB no estado que pode explicar tamanha diferença entre os dois partidos na RMSP.
Na esquerda, por outro lado, há maior investimento na região, mas também uma aposta mais contundente em candidaturas isoladas, se considerados o PT e o PDT. O PT foi o partido que lançou candidatos em mais municípios da RMSP, 28, o que corresponde a 20% de suas candidaturas em todo estado de São Paulo. Desses 28 municípios, 10 terão candidaturas petistas sem coligação (36%). Além de entrar na competição pela prefeitura de São Paulo, cidade em que o partido apresenta candidatos competitivos desde o período da redemocratização, suas maiores investidas estão na sub-região sudoeste, que concentra 50% de suas candidaturas na RMSP. A composição das coligações feitas pelo PT em algumas cidades também é heterogênea ideologicamente, incluindo partidos de direita e do centrão, mas com maior tendência aos partidos de esquerda. Aí destacam-se o PSOL, em primeiro lugar, e o PCdoB, em segundo.
Já o PDT lança candidatos em apenas 15 municípios, em 60% deles de forma isolada. O partido concentra 23% do total de suas candidaturas estaduais na RMSP, o que denota a importância relativa da área na sua estratégia eleitoral. É interessante notar que o PSB, legenda com a qual o PDT ensaia aliança nacional alternativa ao PT, não está presente nas coligações lideradas pelo PDT na região. O quadro é o mesmo quando o PSB lidera a chapa em candidaturas coligadas.
No que se refere ao PSL, vale lembrar que o seu desempenho nessas eleições contribui pouco para a mensuração da força de Bolsonaro nos municípios. A despeito da recente reaproximação do presidente com a legenda, Bolsonaro não tem relação formal com o partido, não apoia explicitamente muitos candidatos municipais e, quando o faz, distribui este apoio por organizações partidárias distintas, a exemplo das cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo. Ainda assim, é importante considerar que o PSL mantém a segunda maior bancada do Câmara; recebeu, este ano, uma quantia significativa de recursos do fundo eleitoral, cerca R$ 200 milhões; e busca maior interiorização, ao lançar grande número de candidaturas em diferentes estados brasileiros. Em todo o estado de São Paulo, o PSL lançou 121 candidaturas, em quase 20% dos municípios paulistas. Desse total, 17% disputam o cargo majoritário na região metropolitana. Um desempenho positivo nas urnas pode ser incentivo para que o presidente, eventualmente, faça o caminho de volta ao partido frente à dificuldade de formação do Aliança, ainda que sua aproximação ao Republicanos seja cada vez mais evidente.
Tabela 2. Candidaturas prefeito(a)s - principais partidos, estado de São Paulo e RMSP - 2020
Tabela 3. Candidaturas prefeito(a)s - principais partidos, por tipo de agremiação, RMSP 2020
Por fim, o quadro na RMSP permite algumas conclusões, ressalvados a premissa e o fato de que as coligações em eleições municipais diferem das nacionais: a natureza dos temas em foco e a forma de organização dos partidos nos municípios resulta, em geral, em menor ideologização da competição. PSDB e PT, que contam com estrutura partidária robusta no estado de São Paulo, são os principais partidos com candidaturas na região, mas, para o PT, que busca reverter o mau desempenho das eleições de 2016, a região tem peso relativo maior. Diferentemente do PSDB, a força do partido no cinturão industrial de São Paulo, seu berço de origem, não se reproduz no interior.
Dentre as coligações de direita e esquerda que buscam um projeto nacional em 2020, a da direita parece relativamente mais bem estruturada na RMSP. PSDB e DEM estão juntos em mais da metade dos municípios em que o PSDB lança candidato à prefeitura. À esquerda, a coligação que se pretende alternativa ao petismo (PSB/PDT) não tem repercussão na região. Em suma, dada a configuração assumida nessas eleições, é provável que o PT capture a maior parte do voto progressista e consiga alguma recuperação, ainda que no atacado, em função da conjuntura política atual, a direita deva sair vitoriosa.
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