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A corrida pelas prefeituras da Região Metropolitana do Rio de Janeiro


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A Região Metropolitana do Rio de Janeiro (RMRJ) é formada por 22 municípios conectados por suas dinâmicas econômica e social. Historicamente, o parque industrial do estado se desenvolveu e se concentrou na RMRJ, embora municípios de outras regiões do estado também tenham peso relevante para o setor, como Volta Redonda, Porto Real, Resende, entre outros. A despeito da significativa queda da economia industrial nas últimas décadas, a região concentra mais de 70% do PIB do estado e quase 8% do PIB nacional. Além disso, abriga 12 milhões de pessoas, cerca de 70% da população estadual, ocupando lugar central na vida política fluminense. A dinâmica eleitoral nessa região, portanto, impacta sobremaneira os arranjos políticos no estado, com efeito possivelmente importante na política nacional.


Nas eleições de 2020, há 179 candidatos a prefeito na RMRJ, 55% dos quais registrados por partidos isolados e o restante à frente de coligações. Dos 10 partidos que mais concentram candidatos na cabeça de chapa na região destacam-se PL, com 13 candidaturas, seguido por PDT, PSC e Republicanos, com 11 cada um. Próximos a eles estão PSD (10), PSOL (10), PT (10) , MDB (8) e PSL (8) – números que denotam relativa fragmentação da competição eleitoral. Os partidos que compõem o Centrão – bloco informal constituído por agremiações pouco tradicionais, localizadas à direita do campo político partidário, e que opera no Congresso para formação de maiorias voláteis – respondem por 37% das candidaturas da região, com destaque para PL, Republicanos e PSD.


Gráfico 1. Candidaturas partidárias na RMRJ: partidos em destaque + PSDB e DEM

Em eleições municipais, partidos unidos nacionalmente não reproduzem necessariamente a mesma aliança em âmbito local, tendo em vista as especificidades dessas eleições em termos de agenda e organização partidária. Tal quadro, no entanto, varia conforme os partidos considerem as disputas municipais estratégicas para o seu desempenho nacional. É o que se observa de forma bastante clara, por exemplo, na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), em que o PT lançou candidatos em 28 das 29 cidades e o PSDB em 23, muitas vezes com o apoio do DEM, reproduzindo assim o projeto de aliança nacional. Na RMRJ, contudo, o quadro é significativamente diferente. Impera lógica menos nacionalizada nas eleições municipais, sem grande reflexo de projetos nacionais em gestação na disputa atual pelas prefeituras.


O PSDB, por exemplo, apresenta candidatos somente em 5 dos 22 municípios da RMRJ, ficando em décima oitava posição no ranking de partidos com maior número de candidatos na região. Nesses 5 municípios, o partido está à frente de coligações com mais de uma legenda. Em nenhum deles, contudo, há participação do DEM. Em todo o estado do Rio de Janeiro, que tem 92 municípios, o PSDB lançou apenas 16 candidatos. O DEM, por sua vez, partido que abriga figuras políticas tradicionais da política fluminense, especialmente da carioca, também lança candidatos em apenas 5 cidades da RMRJ. Isso equivale à cerca de 20% das suas candidaturas no estado. A coligação do DEM com o PSDB, quando o primeiro é a sigla do candidato à prefeito, só acontece em dois municípios: Rio de Janeiro e São João de Meriti.


Gráfico 2. Partidos em destaque na RMRJ + PSDB e DEM: número de candidaturas na RMRJ e no estado do Rio de Janeiro

Na esquerda, vale chamar a atenção para o PT e o PSOL, que, dentre os partidos de peso político, são os que têm maior número de candidaturas isoladas. Essa estratégia, inclusive, é a que vem sendo adotada por eles na maior parte das grandes cidades do país. A aposta, em separado, no entanto, prejudica ambos os partidos localmente, ainda que possa interferir pouco na construção de eventual aliança para 2022. O PT tem histórica dificuldade em crescer e se afirmar no estado, situação que se agravou com a aliança firmada com o PMDB durante os governos de Sérgio Cabral. O PSOL, por sua vez, transformou o Rio de Janeiro em uma de suas principais plataformas de crescimento, mas tem desafio na região similar ao enfrentado pelo PT em diversas localidades: expandir-se para além da capital, o que requer conquistar cargos em municípios com cena política dominada por milícias e pela direita religiosa. A eleição de Lindbergh Farias (PT) para a prefeitura de Nova Iguaçu, em 2004, e as sucessivas prefeituras conquistadas pelo PT em Niterói foram as tentativas mais expressivas da esquerda nesse sentido, feitos que o PSOL até o momento não logrou. Vale observar, ainda, os movimentos do PDT e do PSB, que ensaiam uma atuação conjunta para 2022 como alternativa ao petismo e à esquerda dita mais radical. Os dois partidos apresentam número razoável de candidaturas no estado e na RMRJ, mas sem grande investimento na aliança. Das 11 candidaturas do PDT na RMRJ, 3 são coligadas ao PSB. Das 7 candidaturas do PSB, duas contam com o apoio do PDT.


É importante notar que o cenário acima descrito tem relação com estratégias conjunturais e metas dos partidos, mas também com os resultados eleitorais de 2018. Para a esquerda, já desestabilizada com o impeachment de Dilma Rousseff, 2018 aprofundou divisões que ainda não foram superadas e que se fazem presentes em 2020. Para a direita tradicional, representada especialmente pelo PSDB, 2018 significou derrota fragorosa, refletida na ascendência de movimentos e partidos de direita até então inexistentes ou pouco expressivos.


O estado do Rio de Janeiro, vale dizer, teve papel importante na construção desse novo cenário. Não é exagero afirmar que boa parte do impulso que implodiu o jogo nacional centrado no PT e no PSDB partiu do estado do Rio de Janeiro, em particular da ascensão de lideranças evangélicas que capitanearam apoio eleitoral massivo à nova direita e ao bolsonarismo.


A fragmentação das candidaturas no estado em 2020 pode beneficiar essa nova direita, com destaque para o PSL e para o Republicanos. Mesmo após a saída de Bolsonaro e de outros políticos apoiadores do presidente, o PSL cresce de forma expressiva no estado e na região, com número de candidaturas próximo a dos partidos mais tradicionais. O montante de recursos e o tempo de propaganda eleitoral destinados ao partido são dois fatores explicativos desse esforço partidário e que podem contribuir para o seu sucesso eleitoral. Já o Republicanos, cujos principais candidatos, inclusive Marcelo Crivella, manifestam proximidade a Bolsonaro, também cresce na região. Com laços estreitos com a Igreja Universal, o Republicanos é o terceiro partido com maior número de candidaturas no estado, atrás apenas do Solidariedade e do PSC (outra agremiação ligada à direita religiosa) – 30% de suas candidaturas estão na RMRJ.


Em conclusão, as estratégias eleitorais nos municípios da RMRJ parecem não se alinhar ao jogo político no nível nacional, já norteado pelas eleições presidenciais de 2022, embora reflitam a desarrumação de arranjos partidários tradicionais, à esquerda e à direita, resultante das eleições de 2018. No entanto, como toda eleição, terá como resultado rearranjos de poder que passarão a influenciar a dinâmica política brasileira nos próximos anos, servindo de teste de resiliência para as agremiações políticas mais tradicionais e de teste de sobrevivência para os projetos novidadeiros, hoje quase todos concentrados à direita do espectro político.


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